quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

"O Médico e o Monstro", de Robert Louis Stevenson

...O homem não é de fato um, mas dois. Digo dois porque meu conhecimento não vai além. Alguns me seguirão, outros igualmente me superarão, e ouso dizer que, no fim, o homem será conhecido como um mero ser onde habitam seres múltiplos, incongruentes e independentes.

 Mesmo que, nunca tendo chegado perto desse livro, você já saiba o final, vale a leitura. Robert Louis Stevenson criou nesse romance o Dr. Henry Jeckill que, enclausurado à hipocrisia dos bons costumes de uma Londres vitoriana, se vê obrigado a criar uma poção -- ele era boticário -- para se transformar em seu alter ego, Mr. Edward Hyde (tá batido já, além de estar na cara, mas aqui entra um trocadilho com o verbo "to hide" do inglês "esconder").

A hipocrisia ainda existe, está dentro de nós, por mais que lutemos contra. E somos educados a sempre ter uma opinião sobre as coisas, em ver apenas o positivo ou o negativo. Particularmente quando nos referimos a outras pessoas. O fato é que fica difícil nos catalogarmos, em escrever um 'Quem sou eu' sincero, uma análise mais profunda em frente ao espelho, se colocarmos tudo na balança, no seu devido peso.

Com o tempo, eventualmente, assumimos uma personalidade dominante. Temos também nosso 'Sr. Escondido'. O amigo durão talvez seja o primeiro a chorar vendo uma comédia romântica, a Maria que ajuda uma ONG para cães de rua talvez seja a mais ferina língua ao falar da vida alheia, Sr. Desapegado talvez encontre alguém que desperte o Sr. Obsessivo que estava adormecido, o Pedro que condena o abate de animais talvez tenha se deliciado com um Chester na véspera do Natal, no almoço do dia seguinte e quem sabe também no jantar.

Não somos perfeitos, ainda bem. Melhor ainda é que um século e meio se passou e não sentimos mais a necessidade de viver de aparências morais (tá, quem sabe um pouquinho no Instagram e no Facebook, mas é virtual e tem família, né?).

Stephen King disse que o Médico e o Monstro é o arquétipo do lobisomem na literatura. Talvez sejamos todos um pouco animal, um pouco homem.