terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

"Harry Potter e a Pedra Filosofal", de J. K. Rowling

Releitura que há muito vinha evitando, desde a minha tentativa fracassada de reler O Hobbit -- livrinho que me fez viajar na infância, assim como a saga do bruxinho mais famoso do mundo. Tinha medo de perder a graça, o respeito e admiração que ainda mantinha pela escritora. Em algum momento, por volta dos meus 17 anos, passei a preferir a literatura de não-ficção, mesmo os romances que li eram romances possíveis. Falha minha não ter uma imaginação tão criativa para poder acompanhar as narrativas fantásticas.



Creio que dispensa apresentações, mas vamos refrescar rapidamente a memória sobre a história desse primeiro livrinho: Harry Potter é um menino de 11 anos, órfão, que mora com seus tios e seu primo, os Dursley -- pessoas desagradabilíssimas. Mesmo havendo quartos o suficiente para todos na casa, Harry vive em uma especie de dispensa em baixo da escada. Em determinada manhã Harry e seus tios são surpreendidos pela chegada de uma misteriosa carta, que Harry não chega a ler. A partir de então as correspondências se tornam frequentes, cada dias mais precisas quanto a seu destinatário e em maior quantidade. Tão misteriosas quanto as cartas é o comportamento de seus tios que não deixam Harry se aproximar delas, drama que acaba com a chegada de um gigante, Rúbeo Hagrid, que conta a Harry que as correspondências são da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts convocando-o para o ano letivo que começa e poucas semanas, porque sim, Harry é um bruxo.

A partir daí somos apresentados ao Beco Diagonal, um centro comercial bruxo, onde se encontra absolutamente tudo que qualquer bruxo precisa -- de livrarias a lojas de roupas, loja de varinhas e um banco (curiosamente, acaba de me ocorrer, de que se bem me lembro, em toda a série não é citada a existência de supermercados). Há também uma curiosa passagem secreta dentro do maior metrô de Londres que dá acesso ao Expresso que os leva a Hogwarts.

Hogwarts é um castelo mágico, munido de um feitiço que faz com que pessoas não bruxas que o cheguem a ver, apenas encontrem um lugar fantasmagórico com uma placa indicando que a construção encontra-se abandonada e que a mesma é muito perigosa. Através dos séculos Hogwarts educou bruxos de todas as estirpes, apesar de não ser a unica escola de bruxaria no mundo (recentemente descobrimos que há uma inclusive no Brasil, CasteloBruxo).

Entre aulas de Poções, Ensinamentos Contra As Artes das Trevas, Transfiguração, entre outras, Harry constrói fortes laços de amizade com Rony Weasley e Hermione Granger, assim como grande desafeto por Draco Malfoy e o Professor Severo Snape.

Bom, creio que já me estendi demais, dado que essas informações, assim como o final da trama já é de conhecimento público. Portanto, meu foco nesse e nos próximos livros é falar sobre questões gerais de tradução e eventuais curiosidades, assim como leve comparação com os filmes -- que foram falhos em diversas ocasiões.


Questões gerais sobre a tradução
Não existe tradução perfeita, sabemos. Em especial quando o material a ser traduzido contém em seu vocabulário palavras cridas pelo autor, que é o caso de Harry Potter. Devemos também nos lembrar que quando da ocasião da primeira tradução ainda não se sabia que a série alcançaria tamanha popularidade e que futuramente uma desatenta tradução poderia influenciar num mal entendimento sobre o significado de determinadas palavras. Vamos analisar alguns casos:
  • Muggles - palavra designada para identificar pessoas não bruxas, tendo aqui a famigerada tradução para 'Trouxas'. Fica evidente, logo nas primeiras páginas, que muggles não é uma palavra familiarizada na língua inglesa, quando Tio Valter está na rua e ouve alguém o chamando por esse nome, mas logo em seguida deixa de dar atenção "seja lá o que isso quer dizer". Trouxa, por outro lado, existe em nossa língua, e aliás, acarreta certo tom de zombaria. 
  • Sherbet Lemon - seria algo como Raspinha de Limão, como um frozen, também citada logo no início do livro e traduzido como "Sorvete de Limão". A discrepância aqui acontece quando o Professor Dumbledore oferece-o a Professora Minerva tal iguaria, e ela recusa pois não sabe do que se trata. Eventualmente, em outros livros, fica de nosso conhecimento que existem sorveterias no mundo bruxo, logo, ela teria reconhecido caso fosse um sorvete.
  • Mugwump - achei muito curioso o uso da expressão 'cacique supremo' para descrever Dumbledore na primeira carta de Hogwarts que Harry lê, uma vez que não há nenhum elemento indígena em toda a série. Mugwump seria melhor traduzido aqui como 'magnata'. 
  • Beady Eyes - no capítulo em que Harry vai ao zoológico, os olhos da cobrinha brasileira nascida em cativeiro, são descritos como 'olhos de contas'. Fiz até uma pesquisa no google, mas não encontrei nenhum exemplo que pudesse espairecer minha mente em relação a tal formato. Novamente um erro bobo para uma palavra que poderia ser traduzida tanto para 'olhos redondos', quanto para 'olhos lustrosos'. 
Há de se reconhecer que a tradutora teve grandes acertos, como a tradução de Peeves para Pirraça -- um poltergeist que vive em Hogwarts. Ou Quidditch para Quadribol.
Tenho muita implicância com o verbo "Por" (eu ponho, tu pões, etc..), penso que sempre pode ser melhor utilizado o verbo "Colocar", que fica mais formal e causa menos estranhamento. Infelizmente, pelo menos nesse primeiro livro, a tradutora prefere a primeira opção, que nos dá aquela sensação de que a qualquer momento vamos nos deparar com um 'ponhar' no meio da história. 
Algo que me deixou muito incomodado nessa edição que li foi que, por acaso lendo o original em inglês, reparei que toda uma frase foi excluída no capítulo do Chapéu Seletor. Foi um acaso, mas que me deixou com um pé atrás por toda a leitura, pensando quanta linhas mais podem ter sido deixadas de fora (até porque, já sei de antemão que algo similar acontece no próximo o livro). A frase em si é muito simples, e não tenho informações se em edições futuras ela foi adicionada, mas a título de curiosidade aqui está ela: "Malfoy went to join his friends Crabbe and Goyle, looking pleased with himself."  Que, tradução livre, seria: "Malfoy se juntou a seus amigos, Crabbe e Goyle, parecendo satisfeito consigo mesmo."

Curiosidades
  • Logo nas primeiras páginas é brevemente comentado sobre Sirius Black, padrinho de Harry, quando Hagrid explica que foi ele quem emprestou a moto voadora com a qual chega a cena. Assim como Dédalo Diggle (membro da Ordem da Fênix, que dá as caras novamente no livro homônimo), Tia Guida (que desde sempre já não gostava de Harry), Sra. Figg (uma vizinha velha, cheia de gatos, que às vezes cuida de Harry, e volta aparecer macabramente no futuro da série).
  • Pra quem sempre ficou curioso de como os pontos de cada casa são contados, já que o tempo todo os alunos ganham e perdem pontos e não há um aparente caderno para se fazer essas anotações, é explicado brevemente que há uma ampulheta mágica que faz esse acompanhamento durante todo o ano letivo, ampulheta qual todos os alunos tem acesso. 
  • Podemos notar desde o primeiro livro os sinais de uma possível bondade em Snape. Não chega a ser uma simpatia, claro. Mas é evidente que ele tenta proteger Harry de certos males, por conta, quem sabe, de uma gratidão a seus pais. 
  • Também para quem sempre ficou curioso de como Hagrid colecionou as fotografias dos pais de Harry para montar o álbum que ele lhe dá no final da história, é explicado que Hagrid mandou corujas para todas as pessoas que era de seu conhecimento que conviveram com Lilian e Tiago Potter, solicitando as mesmas. 
Partes não incluídas ou adaptadas para o filme
  • Nesse primeiro livro há uma segunda partida de Quadribol, de Grifinória contra Sonserina, na qual Snape é o árbitro, que apesar de favorecer a sua casa regente, está ali para evitar que outro incidente como o da vassoura descontrolada aconteça novamente -- apesar de que não tenhamos essa informação em tempo real. A partida acaba em menos de cinco minutos, quando Harry pega o pomo de ouro. 
  • Norberto, o dragão norueguês, na verdade é levado para Carlinhos -- irmão mais velho de Rony, que estuda dragões -- por outros bruxos amigos dele. Ninguém na escola fica sabendo da existência dele, à exceção de Harry, Rony, Hermione e Draco. E portanto Hagrid também não leva nenhum tipo de punição por o ter mantido clandestinamente em sua casa. 
  • Nos capítulos finais, quando Harry e seus amigos conseguem entrar no alçapão guardado por Fofo, o cão de três cabeças, as chaves que no filme são apresentadas com asas de que remetem a mosquitos, no livro na realidade são descritas como "chaves aladas", com penas. Também nesse capítulo ficamos sabendo que há mais duas etapas de provas que não foram incluídas no filme, sucessivamente a 4ª etapa: lutar contra um Trasgo das montanhas, que a essa altura já havia sido derrotado pelo Professor Quirrel. E a 5ª: uma sala com cinco poções e uma charada, três das poções são fatais, uma possibilita ir a diante e a última possibilita voltar atrás.  

Nas últimas páginas, quando Harry já salvou o dia e está internado na Ala Hospitalar, há um diálogo que chamou minha atenção, que basicamente consiste em Harry perguntando para o Professor Dumbledore o por quê de Voldemort o querer matá-lo, ao que recebe como resposta que "você vai saber, um dia...por ora tire isso da cabeça". Por algum motivo esse diálogo me intrigou, e me pareceu que eu deixei escapar alguma coisa na vez anterior a que li todos os livros. Uma impressão de que não é tão simples quanto parece. No decorrer das releituras, caso não tenha sido apenas coisa da minha cabeça, incremento esse post com alguma resposta melhor que os livros nos dê. 

Gostei muito dessa releitura, felizmente minha preocupação de que a história perdesse a mágica aos meus olhos estava errada. Harry Potter tem em mim esse sentimento que poucos personagens me fazem sentir. Assim como para Holden Caulfield (O Apanhador no Campo de Centeio) e Eduardo Marciano (O Encontro Marcado), que já li mais de uma vez suas histórias, para com Harry também continuo me angustiando e torcendo para que tenha um final feliz, mesmo que o final já tenha sido escrito e já sejam do meu conhecimento. 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

"O Médico e o Monstro", de Robert Louis Stevenson

...O homem não é de fato um, mas dois. Digo dois porque meu conhecimento não vai além. Alguns me seguirão, outros igualmente me superarão, e ouso dizer que, no fim, o homem será conhecido como um mero ser onde habitam seres múltiplos, incongruentes e independentes.

 Mesmo que, nunca tendo chegado perto desse livro, você já saiba o final, vale a leitura. Robert Louis Stevenson criou nesse romance o Dr. Henry Jeckill que, enclausurado à hipocrisia dos bons costumes de uma Londres vitoriana, se vê obrigado a criar uma poção -- ele era boticário -- para se transformar em seu alter ego, Mr. Edward Hyde (tá batido já, além de estar na cara, mas aqui entra um trocadilho com o verbo "to hide" do inglês "esconder").

A hipocrisia ainda existe, está dentro de nós, por mais que lutemos contra. E somos educados a sempre ter uma opinião sobre as coisas, em ver apenas o positivo ou o negativo. Particularmente quando nos referimos a outras pessoas. O fato é que fica difícil nos catalogarmos, em escrever um 'Quem sou eu' sincero, uma análise mais profunda em frente ao espelho, se colocarmos tudo na balança, no seu devido peso.

Com o tempo, eventualmente, assumimos uma personalidade dominante. Temos também nosso 'Sr. Escondido'. O amigo durão talvez seja o primeiro a chorar vendo uma comédia romântica, a Maria que ajuda uma ONG para cães de rua talvez seja a mais ferina língua ao falar da vida alheia, Sr. Desapegado talvez encontre alguém que desperte o Sr. Obsessivo que estava adormecido, o Pedro que condena o abate de animais talvez tenha se deliciado com um Chester na véspera do Natal, no almoço do dia seguinte e quem sabe também no jantar.

Não somos perfeitos, ainda bem. Melhor ainda é que um século e meio se passou e não sentimos mais a necessidade de viver de aparências morais (tá, quem sabe um pouquinho no Instagram e no Facebook, mas é virtual e tem família, né?).

Stephen King disse que o Médico e o Monstro é o arquétipo do lobisomem na literatura. Talvez sejamos todos um pouco animal, um pouco homem.




 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

"Carmen - Uma Biografia", de Ruy Castro

A tal da memória curta...

Leitura que demorou alguns meses para ser concluída, não por falta de vontade, mas é que no meio da bagunça narrada nos últimos posts faltou tempo para ler. Antes de iniciar a leitura sabia pouco sobre Carmen Miranda (mas arrisco dizer que não menos que as pessoas em geral sabem!). Sabia que ela tem uma música chamada "Mamãe, eu quero", que ela fazia performances com um cacho de bananas na cabeça, com roupas chamativas. Ah, que tinha algumas marchinhas de carnaval. Só.

Ruy Castro é ótimo escritor e me pareceu ser um biógrafo dos mais respeitáveis e com credibilidade. Ele soube, como em poucas biografias que li, contextualizar lugares, diferentes momentos da história, expressões locais e gírias.  E fez um trabalho único, de grande favor para a cultura brasileira. O resultado de sua pesquisa foram 632 páginas sobre a vida da biografada. 632 páginas! De uma mulher que a grande maioria dos brasileiros conseguem, se muito, escrever 3 linhas. 

Essa leitura me despertou muitas reflexões, mas em especial a questão da "memória curta do Brasil". Termo mais comumente usado quando falamos em política, mas são muitos casos culturais também. 

Carmen Miranda foi uma das maiores cantoras brasileiras em sua época, num tempo em que ainda nem se lançavam LP's, as músicas eram lançadas direto nas rádios. Mais tarde participou de filmes brasileiros de baixíssimo orçamento, alguns inclusive, não fosse por relatos, nem se saberia que existiram, uma vez que seus originais se perderam com o tempo. O sucesso era tal que seus concertos eram sempre lotados, nas madrugadas cariocas. E quando algum estrangeiro visitava a cidade era ponto garantido que seus anfitriões os levavam. Numa dessas um empresário americano compareceu à um club que Carmen estava se apresentando. Foi amor à primeira vista. Depois de alguns dias de negociação Carmen se mudou de mala e cuíca para os Estados Unidos.

Lá iniciou uma promissora carreira em teatros, mais tarde indo aos cinemas -- também cantando por lá suas músicas em português. Já com a carreira estabelecida Carmen chegou a ter o maior salário pago a uma mulher em solo americano. 

Infelizmente todo esse sucesso era devido à personagem e não à mulher. Nas décadas em que morou lá e atuou, Carmen sempre teve que encenar a mulher latina -- não necessariamente brasileira, por vezes a mexicana ou a cubana eram mais vendáveis --, exagerada, chamativa. Fazia em média 3 shows por noite, em diferentes clubes e cabarés. Para conseguir dar conta começou a tomar remédios para dormir, e por consequência também para acordar. Isso em uma época que essas drogas legais ainda eram estudas e seus riscos eram desconhecidos. 

Nesse ponto é possível fazer uma ponte entre Carmen e Marylin Monroe. Ambas sonhavam em se casar (uma se casou e a outra não, mas ambas viveram relacionamentos de fachada), sonhavam em ter filhos (nenhuma teve), e sonhavam em largar tudo para serem donas de casa exemplares (infelizmente não tiveram tempo). Quanto à realidade, ambas eram estereotipadas (Marylin sempre era vista como a loira-burra-gostosa), foram por determinado momento a pupila de seus respectivos estúdios cinematográficos, e eram viciadas em medicações calmantes e estimulantes (mesmo não tendo consciência disso, e achassem que a medicação apenas as ajudava). 

Quando da sua última visita ao Brasil, haviam se passado 14 anos que Carmen não pisava em solo brasileiro. Ficou aqui por 4 meses, mais em reabilitação do que aproveitando seu povo e cidade. 2 meses após seu regresso nos Estados Unidos morreu em sua casa, aos 46 anos de idade, vítima de infarto. Não pode realizar sua vontade de aproveitar mais um carnaval brasileiro, incógnita entre a multidão. E seu plano de eventualmente voltar a morar aqui também não pode chegar a ser considerado seriamente.

Seu enterro foi no Rio de Janeiro, uma semana depois do ocorrido. Causou grande comoção e alguns videos de matérias da época estão disponíveis na internet (assim como muitas apresentações, entre elas sua última, gravada algumas horas antes de sua morte).

Causa indignação fazer uma rápida busca e constatar que há pouco, ou quase nada, de Carmen disponível à venda no Brasil. Uns poucos filmes, uma ou outra coletânea com no máximo 16 músicas. Pouco para quem tem mais de 300 registros. Nas lojas norte-americanas há mais fartura disponível. Irônico e envergonhador. 

Li por aí que Pedro Almodóvar já manifestou interesse em fazer um filme sobre a vida de Carmen, baseado nessa biografia, mas foi impedido porque os direitos atualmente pertencem a Rede Globo, que os comprou com o intuito de fazer uma mini-série. Nada foi feito ou planejado ainda.

É triste ter que admitir a memória curta de nossa pátria, e mais ainda a ignorância geral em volta dessa artista. Torço muito para que nos anos vindouros sejam disponibilizados mais filmes, músicas e divulgação em cima de sua história. Merecemos e devemos saber mais sobre Carmen Miranda. Vida longa!


segunda-feira, 25 de maio de 2015

E continua a bagunça

Continua tudo uma bagunça. Estou começando a achar que é fase, coisa que passa, que todo mundo tem que viver. No entanto segue angustiante. No trabalho está sendo uma montanha russa, há dias que adoro, há dias que não sei como vou aguentar até o final. Não é uma boa época pra ninguém pedir demissão. Sigamos fortes, pois. Coisas boas também aconteceram, mas de lugares inesperadas. Voltei ao dentista, porque quebrei uma parte de um dente. Isso é bom. Conheci a família da minha mãe - que é bem grande (acho que já falei). Nos relacionamentos continua tão agoniante quanto antes. Relato chato, sobre uns dias chatos.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Tá tudo uma bagunça

Fui numa festa ontem, cheguei em casa às 4 e pouco, minha amiga dormiu na minha cama, e um amigo que estava em outra festa veio dormir comigo, no chão. Acordei às 11 e tava chovendo, voltei a dormir, acordei meio dia e continuava chovendo. Tive que levantar, porque hoje é dia das mães e tinha que ir pra casa. Parou a chuva, Mel foi embora, acordei o Roger, porque ele também tem uma mãe pra ver hoje. Tomei banho, fui pra casa dos meus pais, no caminho: chuva de novo. Ainda estou com os pés molhados. Família reunida e falando sem parar, às vezes é bom, mas nem sempre. Planos de uma viagem dentro de algumas semanas, pra reunir a família toda da minha mãe - que é bem grande, nem conheço todo mundo - em prol do aniversário de um tio - que por sinal, não conheço, só ouço falar. Dormi na cama dos meus pais, porque melhor lugar não há. Dormi por umas 3 horas e voltei pra casa. Trouxe comida pros amiguinhos, mas acho que quem comeu mais fui eu mesmo. Amiguinhos se reuniram aqui na sala pra contar velhas histórias de desilusões e rir de vídeos bobos. Fumei um cigarro na sacada com a vizinha - fumei vários na verdade, durante o dia. Todos foram dormir. Lavei umas roupinhas chave, porque talvez terei um ~encontro~ amanhã, talvez irei ao cinema. Pra beijar, porque não gosto de filme. Aliás, por falar nisso, não falei com o boy1 hoje. Mas em compensação as coisas com o boy2 vão muito bem. Quer dizer, estavam indo, até eu descobrir o instagram dele e confirmar aquilo que eu já achava: não temos nadinha a ver um com o outro. Mas enfim, amanhã talvez eu tenho um encontro. Fiquei fazendo stalkes vários no instagram e achei que seria adulto dar uma olhada no perfil de um velho e persistente crush. Qual minha sorte quando curti uma foto sem querer? Tive que segui-lo pro climão ficar menor. Ai, vida. Amanhã minhas férias já não mais existirão, e eu terei que acordar cedo, de modo que já deveria estar dormindo. Mas tá tudo uma bagunça e estou sem nada de sono. Li mais um ensaio do livro da Virginia, sobre Thoreau. Aproveitei a vibe stalk e já mandei ver nele também. Que vida interessante esse cara teve. Mas agora são 4:09 da manhã e logo mais estarei que estar disposto para 8 horas de trabalho e paciência e talvez um encontro. E é triste saber que escrever sobre todas essas coisas talvez, na verdade, não ajudem em nada.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

"Como ser uma dona de casa in 3 easy steps" ou "Nasce mais uma Amélia na vizinhança"

Estou há quase 4 meses morando fora da casa dos meus pais. Se o tempo pode ser relativamente curto, as novas experiências, por outro lado, não as foram. Sempre temos uma pré-ideia sobre as coisas e ensinamentos da vida - ouvimos falar dos desafios diários, a convivência com pessoas, os dotes da cozinha e vida doméstica. Mas só os entendemos e sentimos quando vivenciamos. Pequenas coisas para mim, podem ser grandes catástrofes na vida de outros. Mudanças de humor que nunca tive tornam-se rotineiras quando vive-se com outras três pessoas. As culturas, educações, visões e modos de vidas são todos diferentes - apesar de ter uma linha que acabe nos ligando e faz com que tenhamos uma convivência razoavelmente boa. A vida se torna um guia prático e diário de como ser uma dona de casa. Hoje repenso em nunca ter me interessado em cozinhar, ou nunca ter realmente visto o valor das coisas no mercado, por exemplo. Poderia também ter observado mais as quantidades compradas, marcas, modos de uso. Dicas valiosas, que quando se vive no ninho familiar, deixamos passar. Aprendi à fazer arroz soltinho (prefiro unidos venceremos, mas por questão de time maior o soltinho é o que sempre vai à mesa - não que tenhamos uma mesa), abobrinha refolgada (minha favorita), batata assada, carne moída cozida e outras coisinhas. Aprendi a comer em restaurantes, mercados, qualquer lugar que ofereça comida em dias que não faço ideia do que cozinhar. Eu que sempre morei em casa com chão de lajota tive que pegar na marra as formas de se limpar e conservar chão de tacos. Também tive que aprender a desentupir ralo do banheiro, que por mais nojento que seja é necessário. Aprendi a lavar roupa no tanque, atividade que parece simples mas que requer horas para um serviço bem feito. E depois de roupas lavadas, aprendi a pendurar roupas no varal sem usar grampos (os "nózinhos" de cuecas e calcinhas no varal, se bem analisados, são bem bucólicos). A convivência de fato é um exercício diário. Aprender a entender os humores das pessoas, de respeitá-las, e ignorá-las quando necessário, é atividade das mais difíceis. Por outro lado, quando se tem a oportunidade de morar na mesma casa com alguém cuja amizade se estende há 11 anos, também é muito prazeroso ver que sempre é possível melhorar e sentir afeto, companheirismo e cumplicidade ainda mais fortes. Também tenho raciocinado sobre a metáfora do pássaro que aprende a voar, que quer sempre vôos mais altos. Uma vez fora da casa dos meus pais, quero mais. Vejo agora problemas que há muito meus amigos já me falavam. Sobre a cidade, possibilidade de empregos, pessoas e lugares. Quero morar em uma cidade maior. Já é uma meta. Tenho alguns meses ainda para planejar, ver e rever a situação. É o próximo objetivo. Li pouco desde que vim para cá. Alguns livros da Agatha Christie aqui, um livro de um escritor mexicano ali. Estou numa fase de transição sobre as coisas que gosto e das coisas que outrora gostava. Nenhuma grande conclusão por enquanto. Pro futuro apenas me desejo serenidade e saúde. Um pouco de determinação e força também.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Tô saindo da casa dos meus pais!

Há muito não escrevo por aqui, parte por ter lido pouco no ultimo ano, parte por estar com tempo escasso, e outra ainda por meu teclado estar estragado (sim!). Mas ando inspirado ultimamente: to saindo da casa dos meus pais pra morar com 3 amigos. Que loucura! Mas boa.

Hoje pintamos o meu novo quarto, no qual estarei habitando dentro de algumas semanas. E apesar de saber que as grandes novidades ainda estão por vir já me deparei com umas situações engraçadas (?). 1°: tinta de parede é cara. CA-RÍS-SI-MA, eu diria. Especialmente se você quiser uma cor bacana.
2 º: adequar seus antigos moveis a seu novo espaço é penoso. Tem coisas que simplesmente não caberão, e lide bem com isso.
3°: seus pais podem ficar tão felizes quanto você com a mudança (algo me diz que eu deveria estar triste)
4°: a grande maioria das pessoas a quem você contar sobre a mudança primeiro farão cara de choque e depois acrescentarão a pergunta: você brigou com seus pais? No meu caso NÃO, dai em seguida eles fazem cara de 'ufa!' e me felicitam pela decisão e pelo grande passo dado.
5°: você - finalmente - aprende a poupar dinheiro em prol de algo durável.
6°: pesquisa no Google coisas que nunca passaram pela sua cabeça, como: como pintar uma parede, como encaixotar adequadamente seus pertences, como otimizar espaços, etc. E aprende muito com isso.
7°: o frio na barriga passa depois de alguns dias.

Ainda vem muito pela frente, e essa é uma das partes mais legais. Eu estava precisando de algo assim. Por ora são essas as novidades, mas pretendo escrever mais por aqui.

Abraços!