quarta-feira, 17 de abril de 2013

Desafio Literário #3

O homem que matou Getúlio Vargas (Jô Soares)
 
Que Jô Soares é um intelectual não é novidade para ninguém. Seu programa de entrevistas diário é criticado por alguns, que alegam que o apresentador interrompe em demasia seus entrevistados e que seu humor já está um pouco ultrapassado. Esquecem que características que fazem um bom ou mal humor são peculiares de cada espectador. Em contrapartida, a fórmula de seu programa ainda é copiado descaradamente por outras emissoras. Sim, há qualidade.

Jô também é ator e escritor, e em ambos casos prefere usar sua estrela maior: a comédia. Em quanto escritor, ele toma lá suas liberdades na hora de criar em cima de fatos, mas tudo em nome do humor. Em "O Xangô de Baker Street", seu romance de estreia, Jô trás à solos brasileiros o mais prestigiados dos detetives, Sherlock Holmes, para solucionar crimes relacionados a pessoas próximas à Dom Pedro II. Sherlock Holmes, sabemos, é um personagem fictício, enquanto Dom Pedro II goza hoje em dia de seu túmulo real. Por essa mistura de ficção com não-ficção, que Jô encanta ou espanta. Tudo depende do quão aberto é o leitor.
 
"O homem que matou Getúlio Vargas" é a biografia fictícia, de um assassino fictício, Dimitri Borja Korozec, que tem ligações de sangue com a realidade por ser sobrinho de Getúlio Vargas. Mas o que um homem com nome e nascença sérvia tem a ver com um ilustre brasileiro? Calma, senhor Jô sabe justificar. Dimitri foi criado para cometer crimes perfeitos, aluno esforçado, sofria de apenas um problema crônico: era desastrado.
 
Na sua trama, Dimitri quase deu o ponta pé inicial para a Primeira Guerra, esteve envolvido com Al Capone e Franklin Roosevelt, mas são nos capítulos em que o protagonista se envolve com Mata Hari que a graça do livro chega ao seu ápice. Mata Hari, caso não saiba, foi uma dançarina indiana mais tarde acusada de ter sido bode expiatório na Guerra. Acabou por ser fuzilada, apesar de ainda ser controversa a sua participação ou não no plano politico. É acrescentada a sua história um devotado ajudante, o anão hindu Motilah -- também devoto à deusa Kali.
 
 No decorrer de seus encontros e desencontros, aventuras e desventuras, Dimitri vai traçando aos poucos seus planos e ambições, até chegar ao derradeiro final anunciado no título. Jô bebe da água de muitos escritores, mas ainda assim tem seu merecido lugar ao sol, já que além de criar, recriar, fazer rir e nos prender, também nos convence que caso não tivesse dado certo como entrevistador teria, com certeza, se feito notar pela escrita.
 
 
 


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