quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Pesquisar as fontes é preciso

Tô lendo um librinho chamado ‘Bermuda: Triângulo da Morte’,escrito por Martin Ebon. Como o título sugere, trata-se de um estudo sobre o Triângulo Bermuda — famoso local na costa oeste norte-americana onde aconteceram supostos desaparecimentos de navios e aviões. Durante toda a narrativa é teclado na questão de que muito provavelmente esses mistérios que ocorreram lá só são mitos por falta de pesquisa. E não nos referimos aqui a estudiosos do assunto, esses já o fizeram e tentam desmitificar o lugar há anos. A pesquisa necessária é a do povo, de quem ouve a história e passa pra frente. 
Nos vários artigos contidos no livro, escrito por vários estudiosos ou pessoas que presenciaram momentos, a ideia é: muitos dos desaparecimentos atribuídos ao local talvez nunca tenham desaparecido nem sequer perto de lá. O desaparecimento de navios era algo comum até a década de 40 do século passado, quando não havia formas de se comunicar com as pessoas do navio, nem elas com as pessoas em terra firme. Depois disso houve alguns desaparecimentos, mas acredita-se que foram por causa de explosões já que não houve pedidos de ajuda, ou qualquer outro tipo de comunicação. 
A questão é: esse livro foi escrito em 1975. Imagina hoje em dia como não anda essa cultura do diz-que-me-diz-que? Não raro vemos por aí afirmações como ‘a gasolina no Brasil é a mais cara do mundo’, ‘os políticos do Brasil são os mais corruptos’, ‘é ridículo como o Brasil tem os maiores impostos’, “a internet no Brasil é mais cara de todas’. Fico me perguntando se as pessoas que falam essas coisas e as que passam pra frente dedicaram algum momento dos dias delas para averiguar se tais informações são corretas. Creio que não. 
Desde que o mundo é mundo nós nos contentamos com informações mastigadas, com senso-comum. É o que acontece com o Triângulo Bermuda: pelo menos 90% das pessoas que sabem sobre o Triângulo nunca leram sobre o assunto, apenas ouviram falar de suas histórias mirabolantes e passaram pra frente. Até porque, bem sabemos, uma mentira bem contada assume ares de verdade. Por que duvidar, não é mesmo? 
(A título de curiosidade para quem venha interessar: a gasolina mais cara do mundo atualmente está na Turquia, e o Brasil possui o 39º lugar no rancking. De acordo com estudos, em 2013 a Somália foi o país mais corrupto. O imposto mais caro do mundo é na Suécia. E sim, apesar de o Brasil ter uma das internetes mais caras do mundo, ele ainda fica atrás da Argentina.)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

American Horror Story - 1ª temporada



American Horror Story (a partir daqui será abreviado para AHS) ao lado de Game Of Thrones, Braking Bed, Glee e outras, é uma das séries que mais tem-se comentado desde seu lançamento. O que eu sabia antes de começar a assistir-- além de que meus amigos amavam -- era que a série tinha temporadas isoladas, que não precisava necessariamente assistir a anterior para entender a atual, uma vez que cada temporada tem uma história própria.

Pois bem.. AHS conta com 12 episódios, é uma série entretedora, com ótimas atuações, o que são dois pontos muito altos. Porém nem só disso vive uma série. E aqui entra a parte crítica: na minha visão de leigo, achei o enredo de AHS um apunhado de cópias adaptadas. O pior: cópias de coisas icônicas. Pesquisei um pouco sobre a série antes de escrever aqui, e li que os criadores disseram que as maiores inspirações para a série são O bebê de Rosemary e O iluminado. Me perdoem, mas foi bem além da inspiração. Acho fácil pegar ideias prontas e recauchutarem. Red Rose e Os Outros são outras duas das "inspirações" bem presentes. Sem contar as referências diretas ao massacre de Columbine usadas no massacre fictício da trama.


AHS me pareceu a junção de todos os clichês possíveis nas histórias de terror: mansão mal assombrada, fantasmas, vizinhança louca. Sem contar o mal dos séculos: algo sobrenatural, que supostamente não deveria ser passional, se apaixonar! Sim, depois de vampiros, zumbis, lobisomens, dessa vez quem se apaixona é a pobre alma penada de um rapaz e não para por aí, -- WAIT FOR IT -- ele também engravida uma personagem!

AHS atira para todos os  lados, copia de todos também, e nisso cria sua fórmula: feito pra agradar e entreter. Pelo visto tem conseguido, uma vez que já está na sua terceira temporada. Não assisti as outras duas e por enquanto creio que não pretendo, mas espero que nelas os roteiristas tenham achado um jeito de encaixar todas as peças dos mistérios que ocorrem durante a trama: coisa que não houve na primeira temporada.

Muito se explica, muito se esclarece, mas ainda assim ficam certas coisas no ar e/ou sem fazer sentido. Sabe aquele erro que acontece muito de roteiristas fazerem tudo por um clímax? Isso acontece em AHS. Mesmo que depois não tenha uma explicação plausível para aquilo, o que importa é que o espectador ficou tenso.

O penúltimo episódio é de longe o melhor e o último é na mesma proporção o mais sem sentido para com o enredo. Neste há espaço para um humor, calma e clima familiar que não houve na temporada toda. Basicamente tem um final feliz, mesmo que atípico àquele que sempre imaginamos.

Na minha opinião está longe de ser espetacular, e com certeza longe de ser um lixo. Porém não há duvidas de que tem muitas outras histórias melhores, sejam em livros ou filmes. Em todo caso fica a dica para assistirem ou se informarem sobre as "inspirações" antes.  

domingo, 25 de agosto de 2013

"O menino do pijama listrado", de John Boyne

Lembro que por volta de 2008 muito se falou sobre "O menino do pijama listrado", de John Boyne. Li muitas criticas e a sua grande maioria -- se não todas -- eram favoráveis à história. Não importa quanto tempo passe, sempre que um livro que envolva o holocausto é lançado, tanto como romances ou diários, chamará a atenção das pessoas. Porque não importa quanto tempo passe essa é ainda uma parte da história que nos toca e indigna.


John Boyne ao contar sua história fez algo inusual: mostrou o ponto de vista de uma criança alemã de nove anos, filho de um comandante próximo a Hitler. Nesse seu toque de originalidade está o ponto alto do livro e ao mesmo tempo o mais baixo. Bruno é uma criança de classe alta, que um dia ao chegar da escola encontra sua criada fazendo as suas malas, pois em cima da hora sua família precisa viajar. A criança é extremamente inocente e até um certo ponto do livro é isso que nos faz gostar tanto da história. Como por exemplo quando ele se refere ao "Fúria", alguém que mesmo o menino não sabendo descrever exatamente quem é, ele sabe que é superior ao seu pai. Claramente vemos que ele se refere ao "Führer".

Mas no decorrer do livro essa inocência acaba se tornando massante. Em especial quando ele chega na sua nova casa e vê que tem uma grade que os separa de um campo onde há muitas pessoas, todas vestindo pijamas listrados. Novamente a pouca idade do personagem faz com que ele não entenda o que exatamente é aquilo, mas para nós leitores, tão conhecedores  desse período que somos, dispensamos apresentações: trata-se de um campo de concentração nazista.

Um dia Bruno sai para fazer um exploração pelo quintal da casa, quando ele se aproxima da grade ele vê que há um menino se aproximando. Esse menino é Shmuel, um garoto polonês que foi levado para esse campo com sua família. Durante todo um ano eles se encontram sempre que possível ali naquele local. E novamente a inocência de ambas as crianças incomoda. Mesmo com os encontros quase que diários, Bruno não toma consciência do que está acontecendo, ou o que é o campo onde seu amigo mora.

A história é emocionante sim, e o final é aterrador -- motivos pelos quais, creio, esse livro acumulou e vem acumulando fãs. Mas não há como negar que falta profundidade tanto em trama quanto em escrita. O livro de forma alguma é hiperestimado, muito pelo contrário, é fácil de reconhecer que ele tem muitos pontos altos. Um deles, por sinal, é o qual eu considero mais importante: ele te prende do começo ao fim. Em tempos em que todo mundo está com pressa, um livro que nos faça querer ler mais e mais é essencial. Mas com certeza há livros melhores sobre o assunto.

Vida longa à Martha Medeiros!

Essa semana, no dia 20, foi aniversário da Martha Medeiros! São 52 anos de vida, dos quais 28 são de carreira literára. Essa carreira ativa já rendeu 9 livros de crônicas, 5 livros de poesia, 5 romances, 2 livros de relatos de viagens e 1 livro infantil. E, claro, esperamos muitos mais nos anos que se aproximam. Para prestar uma simples homenagem reuni meus livros dela para uma foto. Só ficou de fora o "Non-Stop" que está emprestado. E logo esse que foi o primeiro livro dela que li.


Escritor favorito vivo é coisa rara e escritor favorito que inspira a cada livro lançado é mais ainda. Então achei que não haveria forma melhor de comemorar mais esse ano de vida da Martha do que lendo um de seus livros. O escolhido foi "Persona Non Grata", livro de poesias lançado em 1985. A orelha do livro ficou por conta de ninguém mais ninguém menos que Millôr Fernandes, onde, entre outras tantas palavras, ele disse: "[...] Martha Medeiros repete a dose, nem melhor nem pior, apenas excelente". E como você bem deve saber, o que Millôr diz não se contraria.


Quando se trata de Martha não tenho como escolher entre seus livros o meu favorito. Então minha recomendação é: leia o qual quiser, no gênero que quiser. Porque vale a pena. Ela é uma dessas escritoras que tem aquela rara qualidade de através de uma forma de escrita acessível escrever coisas profundas.

E mesmo que pareça bobo escrever isso aqui, uma vez que provavelmente Martha nunca virá a ler esse texto, não posso deixar de desejar feliz aniversário, saúde e tudo de bom pra ela, que é uma das minhas escritoras favoritas.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

"1933 foi um ano ruim", de John Fante

Charles Bukowski diria sobre Fante: "Finalmente aqui está um homem que não tem medo de emoções". As emoções retratadas nesse "1933 foi um ano ruim" são as emoções de Dominic Molise, um adolescente de 17 anos, vindo de uma família italiana, onde há algumas gerações todos os homens tem seguido a carreira de pedreiro. Dominic quer mais para seu futuro.

É impossível durante a leitura não pensar que Dominic é um primo pobre de Holden Caulfield, d'O Apanhador do Campo de Centeio, de J. D. Salinger. Pobre em todos os sentidos. Dominic é de uma pequena cidade no estado do Colorado, com uma família totalmente endividada. Seu pai está desempregado há 7 meses -- ele atribui isso ao forte inverno pelo qual estão passando -- mas ainda assim ele passa seus dias e noites em um bar, fazendo apostas de sinuca e mantendo um relacionamento com uma outra mulher. A mãe de Dominic é uma pobre coitada, que passa seus dias rezando à Virgem Maria, na espera de melhoras na vida. Dominic também não faz as reflexões profundas que Holden faz nos seus passeios pela cidade de Nova York. Dominic se preocupa, sobretudo, com suas crenças religiosas e com o círculo que se fecha a cada geração de sua família: todos trabalham arduamente, porém, ainda assim todos continuam pobres.

No colégio Dominic sempre se destacou no jogo de beisebol. Fato que faz com que ele trate seu braço como uma entidade à parte do seu corpo. Não à toa Fante teve o cuidado de toda fez que citasse o membro em sua história usasse maiúsculas, O Braço. O final do livro é triste, mas nos faz torcer pelo futuro do personagem principal.

"1933 foi um ano ruim" foi publicado postumamente e talvez por isso, ao final de história, fica um gosto de história inacabada. Após a rápida leitura -- já que são apenas 138 páginas -- é injusto para com o leitor não saber o final derradeiro de Dominic. Mas essa á mais uma daquelas histórias que vem rápido e nos deixa refletindo por mais tempo, matutando sobre sua história e um possível final, condizendo com toda a sua realidade e ainda assim feliz.

"Stephen King - Coração Assombrado", de Lisa Rogak

Desde fevereiro desse ano o mercado editorial brasileiro está mais rico com os lançamentos da Darkside Books. Nesses cinco meses de atividade eles já contam com 9 livros no catálogo, mais 4 edições limitadas de alguns desses livros. Os slogans da editora são sugestivos e fazem jus às suas propostas: "Aposte no escuro" e "Desenterrando clássicos" -- uma vez que os lançamentos até aqui consistem basicamente em livros de horror e afins.
Um dos lançamentos inéditos da editora foi "Stephen King - Coração Assombrado", livro que fez com que sua autora, Lisa Rogak, fosse indicada ao prêmio Edgar Allan Poe de Melhor Biografia -- detalhe que a editora orgulhosamente ressalta na capa da sua edição com um selo hot stamp. Nas 270 páginas dedicadas a contar a vida do escritor, Rogak tenta fazer um retrato de King, juntando todas suas faces: escritor de terror aclamado, pai e marido amoroso, eterno caipira do estado do Maine, filantropo, diretor e roteirista de filmes e televisão, e a lista continua.

Havemos de concordar que não é possível contar 65 anos de vida, entre eles 39 de carreira ativa, em tão poucas páginas, mas não se preocupe: isso se deve porque a autora não se prendeu a pequenezas nem "fofocas intelectuais" que geralmente há nesse gênero. É tudo direto ao ponto, desde a infância aos dias atuais. Fala-se de todos seus livros, os mais célebres contos e adaptações para o cinema e TV.

Stephen ganhou fama quando publicou seu primeiro romance, "Carrie, a Estranha". Nos anos que seguiram seu sucesso literário apenas cresceu com títulos como "O Iluminado", "O Cemitério" e "O Apanhador de Sonhos", só para citar alguns. Apesar de ele não gostar nem concordar quando se referem a ele como um escritor de terror, não adianta: é onde ele mais brilha e, principalmente, por esses livros que será lembrado. Mesmo tendo exitosas experiências fora do gênero, como em "À Espera de um Milagre".

Para pessoas que pouco sabem sobre a vida pessoal do escritor pode ser que se espantem ao descobrir que o homem por trás de histórias tão sombrias e inquietantes é na verdade um cidadão comum, que leva uma vida simplista mesmo tendo alguns milhões de dólares na sua conta bancária. É que Stephen nasceu e cresceu no pequeno estado do Maine, e mesmo que tenha tendado morar em grandes cidades, ele rapidamente constatava que era nesse pequeno estado que estavam suas maiores felicidades e seus piores medos, logo era de lá que saia toda sua inspiração para escrever.


Ainda nesse ano de dois mil e treze (assim mesmo em extenso para respeitar a superstição do escritor com o número treze) está marcado o lançamento de 3 livros inéditos. Mas vale a pena apostar nessa biografia para já ir aquecendo!

sábado, 27 de julho de 2013

[FIXO] Maratona Literária

A "Maratona Literária"  é uma iniciativa inspirada em blogueiros norte-americanos, para que as pessoas leiam mais do que geralmente estão habituadas. Não há uma meta exata de número de páginas ou livros a serem lidos. A regra é clara: apenas leia mais.

Nesses último mês, apesar de eu ter tido muito tempo para ler, li apenas um livro -- mais o livro que estou lendo atualmente. Essa semana garimparei na minha estante livros que estão há muito esperando para serem lidos. Não me comprometo a fazer posts diários, mas tentarei.

Para mais informações, ou para se inscrever na Maratona entre no Café com blá blá blá.

Nesse post serão feitas as atualizações diárias:
29/07: Termino da leitura de "Stephen King - Coração Assombrado", de Lisa Rogak. Eu havia iniciado a leitura na semana passada.
30/07: Leitura do livro "1933 foi um ano ruim", de John Fante.
31/07: Leitura do livro "O menino do pijama listrado", de John Boyne.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

"A Sangue Frio", de Truman Capote

Numa manhã de novembro de 1959 Truman Capote se deparou com uma pequena nota no The New York Times sobre o assassinato de toda uma família, numa pequena cidade do estado do Kansas. Inspirado pela brutalidade e o mistério que envolvia o caso na época, decidiu se locomover até o local do crime para escrever não uma reportagem, mas sim um livro sobre o assunto. Truman -- que nesse momento já era conhecido e aclamado pela sua mais famosa novela, "Bonequinha de Luxo" -- viu ali uma oportunidade de iniciar um novo gênero literário, a "literatura de não-ficção". Esse novo gênero tinha como premissa, assim como o nome sugere, unir realidade e literatura. 

Holcomb era mais uma daquelas típicas cidades pacatas do interior dos Estados Unidos, onde seus moradores estavam longe de qualquer suspeita. O casal Clutter e seus dois filhos estavam estabelecidos por aquela região havia décadas, e mais tarde foram descritos pelos vizinhos como "as últimas pessoas na face da Terra que mereciam ser assassinadas". Infelizmente fatalidades acontecem. Numa madrugada de um sábado comum, dois homens entraram na residência da família acreditando que ali havia um cofre -- já que eram donos de uma grande fazenda. O que eles não esperavam é que há muito o sr. Clutter só pagava suas contas com cheques, e tinha em casa uma quantia um pouco maior que 40 dólares. Decididos a não deixar testemunhas oculares, Dick Hickock e Perry Smith, assassinaram com tiros os 4 moradores da casa.
Família Clutter

Nos dias que se passaram toda a população da cidade entrou em pânico. Literalmente da noite para o dia ninguém mais era confiável. Mesmo que essa descrição seja digna de um romance barato de terror, essa era a realidade dos 200 habitantes de Holcomb. Houve famílias, inclusive, que foram embora da região. A partir de um depoimento de um presidiário, que havia sido funcionário do sr. Clutter há dez anos, chegaram aos assassinos. Dick Hickock tão preocupado em não deixar nenhuma testemunha ocular, esqueceu da testemunha principal: seu ex-colega de prisão, que havia lhe contado sobre a família, onde ela morava e sobre o fatídico cofre. 

Nos 4 anos que se seguiram, Hickock e Smith foram de julgamento a julgamento, sempre pedindo uma apelação ao juiz. Até que em março de 1965 o juri chegou à resposta final: os condenados eram culpados do assassinato de 4 pessoas e teriam como punição a pena máxima, a morte por enforcamento. Capote acompanhou todo o caso, entrevistou vizinhos e moradores de Holcomb e teve acesso aos assassinos, criando com eles uma amizade.
Dick Hickock e Perry Smith

A madrugada de 14 de abril de 1965 foi a data escolhida para a pena ser consumada. No local era permitido a presença de 20 pessoas, os condenados tinham o direito de convidar uma pessoa para assistir execução. Ambos escolheram Capote. Trumam que nesse momento já era íntimo dos assassinos -- chamava-os afetuosamente de "os garotos" -- aguentou ver apenas uma das execuções, a de Dick Hickock, que foi o primeiro a ser enforcado. Essa experiência marcou o escritor para o resto da vida. Mais tarde ele contaria que não conseguiu escrever sobre a morte deles pelos próximos dez dias. 
Truman Capote

"A Sangue Frio" foi o nome que Capote escolheu para seu livro, que virou instantaneamente um best-seller, e consagrou-o como o melhor escritor norte-americano de sua época. Capote jamais voltou a concluir um romance e faleceu 20 anos após o lançamento do livro. Mesmo envolto em controvérsias, sobre a veracidade dos fatos e diálogos narrados no livro, "A Sangue Frio" segue sendo um clássico contemporâneo.

Dois anos após o lançamento o livro recebeu uma adaptação cinematográfica, que permaneceu com o mesmo título e você pode ver o trailer: aqui.

Em 2005 e 2006 dois filmes sobre Capote na época em que escreveu "A Sangue Frio" saíram. Primeiro "Capote", que rendeu o Oscar de Melhor Ator a Philip Seymour Hoffmann, por sua interpretação de Truman Capote. E um ano depois "Infamous", que não recebeu nenhum Oscar porém há quem diga que a interpretação de Toby Jones é melhor que a do concorrente.

Sempre houveram rumores de que enquanto o livro foi escrito, Capote e Perry Smith tiveram um relacionamento, e ambos os filmes abordam também esse tema. Enquanto em "Capote" essa relação fica com ares de platonismo, em "Infamous" eles chegam a se beijar. "Infamous" é bem humorado, com um Truman Capote que se veste afeminadamente, e tem um elenco estelar: Sandra Bullock, Daniel Craig e Gwyneth Paltrow, para citar alguns. Já "Capote" não tem essa cara toda de Hollywood, e é um tanto mais dramático, mas ainda assim meu favorito! 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

"Quem é você, Alasca?", de John Green


Quando se tem 20 anos de idade -- meu caso -- é estranho dizer ou pensar "quando eu era adolescente", porque de certa forma sou e não sou mais. A gente cresce, passa por muitas coisas, adquire rotinas tão cheias quanto de qualquer pessoa "adulta" e por aí vai. Isso, para quem lê com frequência, também reflete nas suas leituras. Ano passado, depois de ler a trilogia "Jogos Vorazes", decidi não mais ler livros YA (Young Adults, caso não saiba), por motivos de (1) eu estava achando muito vago, (2) quem sabe eu nunca tenha sido um adolescente convencional, (3) já havia passado pelas loucuras de meu primeiro amor há algum tempo, e esse assunto é obrigatório nesse tipo de livro e (4) nem vamos entrar em questões de triângulos amorosos, traições de amizade, pé na bunda e etc.

Alguns meses após o episódio Jogos Vorazes lembro de que em quase todos os jornais e revistas que eu abria tinha uma reportagem dedicada ao "sick-lit", gênero literário dentro do YA, que tem como característica assuntos como câncer, suicídio, depressão entre outros. Essa "doença literária" é um termo pejorativo porém levado a sério, já que nos últimos anos foi um boom de livros lançados que se enquadram nessa categoria. O livro que trouxe o assunto à tona definitivamente foi "A culpa é das estrelas" de John Green, escritor norte-americano, premiado por livros anteriores, nerd assumido que junto com seu irmão Hank Green faz o VlogBrothers -- um canal no Youtube onde eles discutem desde literatura a assuntos sociais. Os seguidores do canal  recebem o título de NerdFighters.

John Green
John Green estreou sua carreira literária em 2005 com "Quem é você, Alasca?", livro que rendeu a ele os mais importantes prêmios de literatura norte-americana. Miles é um adolescente de 16 anos, nerd, não tem amigos e é obcecado por últimas palavras ditas por pessoas ilustres -- por conta disso ele é um leitor voraz de biografias e autobiografias. Num desses livros ele descobre que o poeta François Rabelais disse, antes de morrer, que estava indo atrás de um "Grande Talvez". Inspirado nisso Miles acredita que indo para a escola interna Curver Creek ele encontrará o seu Grande Talvez (mesmo ele não sabendo exatamente o que é). Lá ele faz suas primeiras amizades de verdade, entre elas, a menina mais rebelde do colégio, Alasca. Não preciso contar que ela é o primeiro amor da vida dele também, não é?

O que me fez gostar muito desse livro é que apesar de ter os assuntos obrigatórios de livros adolescentes (primeiro amor, o primeiro beijo, a primeira vez que bebe e fuma, a primeira vez sexual, intrigas etc) também há muitos outros assuntos que até o presente momento eu nunca havia lido em outro livro para essa faixa etária. Tamanha foi minha surpresa quando descobri que um assunto constante entre os personagens era o contraste entre vida e morte, que mesmo com tão pouca idade já se questionavam sobre o sentido da vida -- isso é, se de fato tem algum. Outra coisa que gostei muito foi um trabalho passado por um professor, que tinha como objetivo analisar 3 religiões sob o mesmo prisma e explicar a solução que cada uma dava uma determinada questão e o possível porquê de ser.

John Green me deu uma esperança no gênero YA, que eu estava precisando. Pretendo ler mais livros dele (e quem sabe até seguir umas dicas literárias que ele dá no VlogBrothers).




(Obs: John Green, assim como eu, é muito, muito, muito fã de "O Apanhador no Campo de Centeio", de J. D. Salinger. Não é lindo? Não sei se é coisa da minha cabeça mas teve vezes que enquanto eu lia o livro eu achava bem similar a forma que o Miles narra com a forma do Holden Caulfield. De qualquer forma, sendo ou não um plágio de narração, Green está perdoado :) 


sábado, 27 de abril de 2013

Um Homem Só (Christopher Isherwood)

Já que em termos literários, filosofar é o que há de mais libertador e aconchegante, durante toda a sua história houveram livros com premissas de narrar um dia na vida de um personagem, sempre com o intuito de mostrar como as coisas podem mudar de uma hora pra outra, ou o quanto podemos pensar e analisar em 24 horas. Houve também quem descrevesse aquele que é o dia que nunca saberemos quando chegará, que depois de toda um vida, ele nos surpreende e coloca um ponto final em tudo. "Mrs. Dalloway" e "Um dia na vida de uma mulher" são só dois grandes exemplos.

Christopher Isherwood fez isso no seu "Um Homem Só", só que dessa vez, menos usual, na vida de uma homem -- e menos usual ainda -- homossexual. George é inglês, há muito radicado nos Estados Unidos, professor de literatura. Há oito meses tem vivido o luto de seu companheiro, que faleceu em um acidente de carro. É de se esperar do enredo, até aqui, muito drama, mas é aí que Isherwood se destaca: a história é triste? Sim, muito. O drama escorre pelas páginas? Não, a sobriedade predomina.

Isherwood foi um escritor e ativista de causas gays dos mais importantes. Em seus livros sempre há ao menos um ponto de vista que venha a ajudar no movimento. Vale lembrar que nos referimos sobretudo às décadas de 50 e 60, quando o assunto era muito mais que um tabu. Neste "Um Homem Só" fica claro que George é apenas o porta-voz dos reais personagens principais da história: os sentimentos. Através disso o autor mostrou à sociedade daquele momento que um homossexual é uma pessoa como qualquer outra, que sente como qualquer outra e que é tão integra quanto. Isherwood é mais um daqueles escritores que mesmo tendo vivido e escrito há décadas atrás, tem pensamentos mais estruturados e mais pé no chão que muitos de nossos contemporâneos -- sejam eles a favor ou contra a causa.

Em 2009, Tom Ford (estilista), deu o que falar quando resolveu adaptar o livro para o cinema. O burburinho em volta foi só elogios, que fique claro. A adaptação respeita o enredo, mesmo sendo menos melancólica e mais glamorosa que a história original -- o glamour está desculpado, vindo de quem veio, não podíamos esperar por menos. No Brasil o filme está catalogado como "Direito de Amar" (Título brega, eu sei, mas assista, vale a pena).

Por mais injusto e triste que seja, Christopher não é mais publicado no Brasil há alguns anos. Em países como Estados Unidos e Inglaterra seus livros seguem com o mesmo prestigio, ora ou outra ganhando novas capas e edições. Nossa sorte é que ainda é possível encontrar suas obras nos melhores sebos.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Desafio Literário #4

A viagem do elefante (José Saramago)
 
Nos seus últimos anos de vida, Saramago, nos deixou duas "pequenas grandes histórias", respectivamente, "A viagem do Elefante" e "Caim". Pequenas em suas extensões, mas grandes em seus conteúdos. Em ambos casos, o autor explora a fundo seu lado de contador de histórias, e o faz muito bem.

"A viagem do elefante", como o nome sugere, narra a viagem de um elefante indiano, chamado Salomão, de Portugal à Áustria. Salomão foi dado de presente ao arquiduque Maximiliano da Áustria, pelo Rei D. João III, de Portugal. À primeira vista o enredo pode parecer fraco e simplista, mas Saramago não equivale a essas características e sempre soube como dar outras dimensões à qualquer história que se propôs a narrar.
 
Apesar de o paquiderme indiano estar presente o tempo todo no livro, a grande estrela acaba por ser Subrho, seu conarca -- nomenclatura dada à quem se especializa no trato de elefantes. Ambos personagens servem como pano de fundo às mais diversas críticas que o autor quis abordar. Desde a burocracia de Estado e a corrupção da sociedade, à Reforma Protestante e Contra-Reforma Católica europeia. Temas envolvendo religião sempre estão presentes nas obras de Saramago, mesmo que em algumas vezes mais sutilmente -- como no caso desta --, mas ainda assim impactantes.
 
Verdade seja dita que vez ou outra o livro torna-se um tanto cansativo. Saramago é um escritor muito presente em seu texto, ora dando opiniões que ficam claras não ser dos personagens, ora em momentos de epifania. E nesses momentos onde o escritor fala com si mesmo é comum pensarmos: mas o que isso tem a ver com a história? Porém, ainda assim, o livro continua sendo um dos melhores.


Desafio Literário #3

O homem que matou Getúlio Vargas (Jô Soares)
 
Que Jô Soares é um intelectual não é novidade para ninguém. Seu programa de entrevistas diário é criticado por alguns, que alegam que o apresentador interrompe em demasia seus entrevistados e que seu humor já está um pouco ultrapassado. Esquecem que características que fazem um bom ou mal humor são peculiares de cada espectador. Em contrapartida, a fórmula de seu programa ainda é copiado descaradamente por outras emissoras. Sim, há qualidade.

Jô também é ator e escritor, e em ambos casos prefere usar sua estrela maior: a comédia. Em quanto escritor, ele toma lá suas liberdades na hora de criar em cima de fatos, mas tudo em nome do humor. Em "O Xangô de Baker Street", seu romance de estreia, Jô trás à solos brasileiros o mais prestigiados dos detetives, Sherlock Holmes, para solucionar crimes relacionados a pessoas próximas à Dom Pedro II. Sherlock Holmes, sabemos, é um personagem fictício, enquanto Dom Pedro II goza hoje em dia de seu túmulo real. Por essa mistura de ficção com não-ficção, que Jô encanta ou espanta. Tudo depende do quão aberto é o leitor.
 
"O homem que matou Getúlio Vargas" é a biografia fictícia, de um assassino fictício, Dimitri Borja Korozec, que tem ligações de sangue com a realidade por ser sobrinho de Getúlio Vargas. Mas o que um homem com nome e nascença sérvia tem a ver com um ilustre brasileiro? Calma, senhor Jô sabe justificar. Dimitri foi criado para cometer crimes perfeitos, aluno esforçado, sofria de apenas um problema crônico: era desastrado.
 
Na sua trama, Dimitri quase deu o ponta pé inicial para a Primeira Guerra, esteve envolvido com Al Capone e Franklin Roosevelt, mas são nos capítulos em que o protagonista se envolve com Mata Hari que a graça do livro chega ao seu ápice. Mata Hari, caso não saiba, foi uma dançarina indiana mais tarde acusada de ter sido bode expiatório na Guerra. Acabou por ser fuzilada, apesar de ainda ser controversa a sua participação ou não no plano politico. É acrescentada a sua história um devotado ajudante, o anão hindu Motilah -- também devoto à deusa Kali.
 
 No decorrer de seus encontros e desencontros, aventuras e desventuras, Dimitri vai traçando aos poucos seus planos e ambições, até chegar ao derradeiro final anunciado no título. Jô bebe da água de muitos escritores, mas ainda assim tem seu merecido lugar ao sol, já que além de criar, recriar, fazer rir e nos prender, também nos convence que caso não tivesse dado certo como entrevistador teria, com certeza, se feito notar pela escrita.
 
 
 


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Desafio Literário #2

Você está aí, vodca? Sou eu, Chelsea (Chelsea Handler)
 
Chelsea Handler, ao lado de Ellen DeGeneres, foi uma das comediantes de maior ascensão na última década nos Estados Unidos. Com seu humor ácido, negro, e inspirado basicamente nas próprias experiências, Chelsea cresceu, adquiriu fãs e críticos.
 
Em seu "Você está aí, vodca? Sou Eu, Chelsea" ela nos trás 12 histórias, supostamente autobiográficas, todas engraçadíssimas, claro. Digo supostamente, pois como já se sabe, em matéria de humor nem sempre faz-se uso da sinceridade para alcançar a gargalhada geral. Sendo então, o humorista, um narrador no qual não confio, comecei o livro esperando pieguice. Me enganei.
 
Chelsea -- assim como todas as outras mulheres humoristas -- é uma extraterrestre: se desapega de toda a vaidade, conta suas histórias sexuais sem pudores, assume seus desejos mais esdrúxulos como se fossem coisas corriqueiras, coloca na cruz os eventos sociais mais comuns entre as mulheres e fala abertamente do quão chato é ser convidado à um aniversário de alguém desconhecido.
 
Em alguns momentos chega a nos inspirar, como por exemplo, nos capítulos em que fala de todas as qualidades de seu pai que ela não aprecia. Cá entre nós, amamos nossos pais, sabemos que viveremos em eterna divida e gratidão, mas quem nunca teve vontade de exorcizar todas aquelas manias irritantes deles, falar na cara e no fundo só esperar uma resposta irônica? Chelsea também nos lava a alma.
 
Acho importante a leitura de clássicos, ou livros que nos abram os olhos para a sociedade, porém não essencial. Essencial é um livro que nos agrade, que seja de fácil compreensão, que nos inspire a ler outros, que nos desligue da sempre tão caótica realidade, que faça com que sintamos estar em frente a um espelho e -- por que não? --  também nos faça rir.
 
Chelsea Lately, seu talk-show, vai ao ar de terça à sexta, à meia noite, no canal de tv fechado E! Caso você ainda esteja em dúvidas em ler o livro, o programa serve como introdução.
 



Da profundida do trivial

2013-03-15 10.53.35_Satya8 de dezembro de 1980. Por volta das 23 horas. Mark Chapman, 25 anos, está em frente ao edifício Dakota esperando pelo mais ilustre de seus moradores. Aquele seria seu segundo encontro com o cantor do dia. Horas mais cedo, Chapman havia conseguido um autógrafo, mas dessa vez os motivos que o levavam até lá eram maiores do que a ligação entre fã e ídolo. Sem demora, ele vê virando a esquina o casal John Lennon e Yoko Ono. Sem dizer nada ele saca um revolver do bolso e dispara cinco tiros. Quatro deles atingem Lennon, que faleceu no local. Chapman, contrariando o que qualquer outra pessoa faria numa situação como essa, senta ao lado do corpo e volta a sua leitura do livro “O Apanhador no Campo de Centeio” de J.D. Salinger. Mais tarde, já preso na delegacia, quando chamado à dar seu depoimento, diz que – entre outros motivos – quem o fez matar o cantor fora Holden Caulfield, o personagem de 16 anos do livro.

Graças à esta fatalidade e o depoimento de uma pessoa claramente desestabilizada mentalmente, “O Apanhador no Campo de Centeio” ficou com a fama de “o livro dos assassinos”. Este salvo conduto – de ter um mandante (mesmo que literário) – foi usado em pelo menos outros 3 casos de assassinato ou tentativa de assassinato envolvendo sempre pessoas ilustres. Mas afinal de contas, o que de tão pertubador há nesse livro?

A resposta é simples: sentimentos triviais na vida de um adolescente. Holden Caulfield se vê expulso do colégio pela terceira vez, em véspera de Natal. Decidido de que não irá mais ficar nem um dia no colégio — já que era um internato — ele foge na mesma noite em que sabe da notícia. Vendo que ainda faltariam 4 dias para o seu regresso para casa, por conta do recesso, Holden decide passar esses dias nas mediações de Nova York — onde sua família mora. O que a primeira vista parece ser só mais uma história de um adolescente rebelde, se mostra, na verdade, muito mais profundo por conta dos pensamentos do protagonista.
holden6Holden, como ele mesmo afirma, vem de uma família burguesa. Tem dois irmãos e uma irmã. Não fica específicado quando, mas sabe-se que um de seus irmãos (o mais novo) faleceu por conta de uma leucemia. Além disso, Holden sente-se muito solitário até mesmo quando está rodeado de pessoas, e tem a certeza de que ninguém o escuta ou se importa com ele. Esses fatos, somados, talvez explique a confusão que é a cabeça do adolescente.

O livro foi publicado 30 anos antes do assassinato de John Lennon, mas ganhou repercusão mundial após o caso. Antes disso, o livro por si só já era polêmico por conta do uso abusivo de gírias e de questionamentos sobre a vida sexual do personagem. Coisas que hoje em dia não assustariam ninguém, mas lembremos que nos referímos à decade de 50. Toda a trivialidade de sentimentos, mesclado com a profundidade destes, fez uma legião de fãs não só para com o livro, mas para com o escritor, J.D. Salanger, que conseguiu ser mais enigmático que seu personagem.

Apesar de Holden já não ser mais o tipo de personagem que adolescentes nos dias de hoje têm como herói — muito pelo contrário, exerceria o papel de anti-herói –, e a escrita de Salanger não ser das mais convencionais, são facilmente identificáveis os motivos que levaram o livro a ser considerado o quinto melhor do último século. E também quando você lê a última página, é muito fácil de se identificar com Holden quando ele diz que gostaria de poder ligar sempre que quisesse para seus escritores favoritos. Salinger já entrou pra minha lista.

Desáfio Literário #1

O Corcunda de Notre-Dame (Victor Hugo)

Coloque no papel um estudo histórico, diferentes formas de amar uma mesma pessoa, o contraste entre o profano e o sagrado, e outro entre o feio e o belo. Pronto, você tem em mãos um clássico eterno. Foi isso que Victor Hugo fez no seu “O Corcunda de Notre Dame”, obra que consagrou o autor, e fez com que se torna-se um dos maiores intelectuais em sua época, na França.

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Do alto dos campanários da catedral surge uma linha de amores platônicos, todos ligados entre sí: Quasimodo, o corcunda, caolho, surdo e manco, que ama Esmeralda. Claude Frollo, o arquidiácono, que também ama a cigana. Esmeralda, a cigana — ou a “sem documentos”, mais comumente chamada naquela época –, que se apaixona completamente por Phoebus. Phoebus, o soldado que não pode ver “um rabo de saia”, que está dividido entre Esmeralda e Fleur-de-Lys, sua noiva — sem, de fato, amar nenhuma das duas. E por fim, Fleur-de-Lys, jovem moça da alta sociedade parisiense, que ama Phoebus e estando noiva dele faz o possível para manter a cigana longe.

Através dos séculos a história foi adaptada diversas vezes para o cinema e animações, de modos que até mesmo a mais fiel das versões se distancia, em termos, do original. Não raro, vimos o amor impossível entre Phoebus e Esmeralda. Porém, no livro, fica evidente que apenas Esmeralda era portadora de tal sentimento. Phoebus, por sinal, é o personagem mais detestável entre todos. Outras versões, como a da Disney, por exemplo, até mesmo tirou Fleur-de-Lys da história para facilitar o final feliz do casal.

O fato é que monsieur Hugo sabe escrever bem uma história, sabe fazer com que amemos os personagens e, principlamente, sabe fazer com que seus leitores torçam por um final feliz mesmo depois de ter terminado a leitura, e tenha encontrado o final já escrito.