Já que em termos literários, filosofar é o que há de mais libertador e aconchegante, durante toda a sua história houveram livros com premissas de narrar um dia na vida de um personagem, sempre com o intuito de mostrar como as coisas podem mudar de uma hora pra outra, ou o quanto podemos pensar e analisar em 24 horas. Houve também quem descrevesse aquele que é o dia que nunca saberemos quando chegará, que depois de toda um vida, ele nos surpreende e coloca um ponto final em tudo. "Mrs. Dalloway" e "Um dia na vida de uma mulher" são só dois grandes exemplos.
Christopher Isherwood fez isso no seu "Um Homem Só", só que dessa vez, menos usual, na vida de uma homem -- e menos usual ainda -- homossexual. George é inglês, há muito radicado nos Estados Unidos, professor de literatura. Há oito meses tem vivido o luto de seu companheiro, que faleceu em um acidente de carro. É de se esperar do enredo, até aqui, muito drama, mas é aí que Isherwood se destaca: a história é triste? Sim, muito. O drama escorre pelas páginas? Não, a sobriedade predomina.
Isherwood foi um escritor e ativista de causas gays dos mais importantes. Em seus livros sempre há ao menos um ponto de vista que venha a ajudar no movimento. Vale lembrar que nos referimos sobretudo às décadas de 50 e 60, quando o assunto era muito mais que um tabu. Neste "Um Homem Só" fica claro que George é apenas o porta-voz dos reais personagens principais da história: os sentimentos. Através disso o autor mostrou à sociedade daquele momento que um homossexual é uma pessoa como qualquer outra, que sente como qualquer outra e que é tão integra quanto. Isherwood é mais um daqueles escritores que mesmo tendo vivido e escrito há décadas atrás, tem pensamentos mais estruturados e mais pé no chão que muitos de nossos contemporâneos -- sejam eles a favor ou contra a causa.
Em 2009, Tom Ford (estilista), deu o que falar quando resolveu adaptar o livro para o cinema. O burburinho em volta foi só elogios, que fique claro. A adaptação respeita o enredo, mesmo sendo menos melancólica e mais glamorosa que a história original -- o glamour está desculpado, vindo de quem veio, não podíamos esperar por menos. No Brasil o filme está catalogado como "Direito de Amar" (Título brega, eu sei, mas assista, vale a pena).
Por mais injusto e triste que seja, Christopher não é mais publicado no Brasil há alguns anos. Em países como Estados Unidos e Inglaterra seus livros seguem com o mesmo prestigio, ora ou outra ganhando novas capas e edições. Nossa sorte é que ainda é possível encontrar suas obras nos melhores sebos.
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